terça-feira, outubro 06, 2015
domingo, junho 10, 2012
domingo, janeiro 29, 2012
Valandré Down Jacket (Bering) and Pants, size M, excellent condition
**Valandré Down Jacket (Bering) and Pants, size M (I am 1.70m tall), colour red, used only on 3 summit days (8000m summits), never soaked it, no stains, never used it anywhere else besides these summit days, very good condition, jacket practically new, always stored open and ventilated, it is based in Lisbon, Portugal, EU.
Delivery to EU: Eur 25.
Filled with the best Pyreneen goose down: 600gr for the jacket, 300gr for the pants.
Valandré is one of the best and older down European clothing manufacturers located in France, http://www.valandre.com.
Reason to sell: bought the Valandré Combi.
These articles are for sale at eBay: http://bit.ly/wNIyEb
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quinta-feira, janeiro 27, 2011
Caixões no Ministério da Educação
Expliquem-me qual a função dessas escolas e o seu interesse de existirem, e quanto custam a mais que as públicas, e por quê.
Quando se fala em liberdade de escolha, um valor magnânimo, exerce-se com autonomia e não com a mesada do Estado.
Sermos todos livres por igual é justo; ou recebemos todos essa mesada ou ninguém a recebe. Mas se uns forem mais iguais que outros, não é aceitável.
Quando se fala em liberdade de escolha, um valor magnânimo, exerce-se com autonomia e não com a mesada do Estado.
Sermos todos livres por igual é justo; ou recebemos todos essa mesada ou ninguém a recebe. Mas se uns forem mais iguais que outros, não é aceitável.
quinta-feira, agosto 05, 2010
Convite para Casamento
Gostaria de partilhar um convite interessante que recebi há dias de um amigo nepalês de raça sherpa:
"My first son Namgyal Zangbu has been engaged in January. My wife and I found him a beautiful Sherpa girl from Solu. The wedding ceremony is on the 30th August and the party will be held on the 3rd of September. I want ...to take this opportunity to invite you to the wedding!"
Gonçalo Velez
quinta-feira, julho 15, 2010
Comentários Anónimos
Acabei de ler um artigo no Público online, seguido de comentários anónimos.
Não é aceitável permitir-se que cidadãos livres escrevam comentários anónimos.
Isso significa desresponsabilizá-los pelas suas atitudes e dar azo a comentários impensados, irresponsáveis, inclusive atentatórios à dignidade dos visados ou do tema.
Sou de opinião que, ou o comentador se identifica como qualquer jornalista o faz, ou deveria ser impedido de o fazer.
Não é aceitável permitir-se que cidadãos livres escrevam comentários anónimos.
Isso significa desresponsabilizá-los pelas suas atitudes e dar azo a comentários impensados, irresponsáveis, inclusive atentatórios à dignidade dos visados ou do tema.
Sou de opinião que, ou o comentador se identifica como qualquer jornalista o faz, ou deveria ser impedido de o fazer.
quarta-feira, junho 23, 2010
Finalmente Alguém impõe Respeito
Macário Correia limita horário do café da autarquia para acabar com "horas de conversa nos bares"
Por despacho interno datado de 27 de Maio, Macário Correia, presidente da Câmara de Faro, deu a ordem aos seus 1030 funcionários: o tempo para o café deve ser regulado com base no "bom senso". "Pretendo um profissionalismo exemplar na resposta aos pedidos. E não posso estar satisfeito com menos", esclarece ao i o autarca.
Macário Correia limitou o funcionamento do café da autarquia ao horário entre as 7 e as 10 horas e entre as 12 e as 14h30, "devido a vários abusos na duração dos intervalos" durante o período laboral que, segundo o presidente da câmara, prejudicavam o desejável funcionamento dos departamentos camarários. "Está em jogo o respeito pelos prazos de entrega de taxas e licenças que aguardam resposta do município. Era uma situação recorrente. Avisei várias vezes as chefias pessoalmente, mas as respostas nunca estiveram à altura dos pedidos e resolvi agir", explica.
(fonte: i)
Por despacho interno datado de 27 de Maio, Macário Correia, presidente da Câmara de Faro, deu a ordem aos seus 1030 funcionários: o tempo para o café deve ser regulado com base no "bom senso". "Pretendo um profissionalismo exemplar na resposta aos pedidos. E não posso estar satisfeito com menos", esclarece ao i o autarca.
Macário Correia limitou o funcionamento do café da autarquia ao horário entre as 7 e as 10 horas e entre as 12 e as 14h30, "devido a vários abusos na duração dos intervalos" durante o período laboral que, segundo o presidente da câmara, prejudicavam o desejável funcionamento dos departamentos camarários. "Está em jogo o respeito pelos prazos de entrega de taxas e licenças que aguardam resposta do município. Era uma situação recorrente. Avisei várias vezes as chefias pessoalmente, mas as respostas nunca estiveram à altura dos pedidos e resolvi agir", explica.
(fonte: i)
domingo, maio 16, 2010
Annapurna
(clica na imagem para ampliar)
Pediram-me hoje para marcar a via Bonington na face sul do Annapurna (8091m), que escalei em 1991.
Confesso que me dá muito prazer rever esta face e recordar o trabalho que nos deu fazê-lo, bem como a alegria de ter atingido o cume.
Os acampamentos foram:
BC - 4200m
ABC - 4700m
C1 - 6200m
C2 - 6800m
C3 - 7300m
A expedição durou de Set 10 a Out 25.
Gonçalo Velez
Annapurna (8091m), Primeiro 8000
Em 1991 tive o privilégio de me tornar no primeiro português a escalar um cume com mais de 8000m, o Annapurna, subindo por uma via de grande categoria: a via Bonington na face sul.
Digitalizei o relato que fiz para a Grande Reportagem, edição de Dez 1991, que podes ler em ficheiro pdf. Clica aqui, depois clica em "download".
Gonçalo Velez
sábado, março 28, 2009
Let's send a Condom to Pope Ratzinger!
As declarações do Papa sobre a inutilidade do preservativo são chocantes e contrariam campanhas de educação há muito comprovadas. Fê-las em Africa que é um continente que está contaminado ao mais nível, há países com 25% da população infectada. Está em curso uma campanha mundial com origem na própria Itália para todos enviarmos um preservativo ao Papa!
Enviem para:
Sr Ratzinger, Prefettura della Casa Pontificia, 00120 Città del Vaticano.
Lê mais aqui:
http://www.facebook.com/home.php#/group.php?gid=58534364452
"asking not to have sex is utopia,
asking to have safe sex is good sense"
Antonio Chiaravalloti
quarta-feira, janeiro 28, 2009
segunda-feira, janeiro 05, 2009
Stop Worrying and Enjoy Life
Leia um comentário de Polly Toynbee "My Christmas Message: There is probably no God" e sobre o movimento Atheist Campaign
Fonte: British Humanist Association
quinta-feira, dezembro 04, 2008
Combater os Homicídios de Honra no Paquistão
Gostaria de chamar a atenção para o flagelo que constitui a violência conjugal e familiar no Paquistão onde as mulheres são cegadas, desfiguradas com ácido, violadas por grupos de homens que se manterão impunes, espancadas até à morte ou mortas por outro meio, por terem praticado, ou serem suspeitas de terem praticado, "crimes de honra".
Estes "crimes de honra" envergonham maridos ou famílias inteiras que, segundo a tradição, têm o dever de "limpar" a honra da família matando a mulher em causa.
O simples facto de uma mulher ter sido violada torna-a, aos olhos desses "familiares" impura e culpada de um crime de infidelidade para com o marido e com a família.
Somente 4% dos culpados são julgados e condenados.
Esta organização, PWA, dirigida por mulheres cheias de coragem e de motivação, algumas vítimas destes horríveis incidentes, esforça-se por:
a) Divulgar e desmascarar todos os crimes que lhe são relatados,
b) Defender por vias legais os direitos das mulheres paquistanesas,
c) Oferecer protecção física e legal e acompanhamento da vítimas até que consigam regressar à sociedade e planear o seu futuro,
d) Gere desde 1999 um albergue em Rawalpindi com capacidade para 30 mulheres.
Leia notícia no Washington Times: Pakistani women victims of 'honor', Acid attacks, kerosene burnings not uncommon as crisis widens, por Katie Falkenberg.
Estes "crimes de honra" envergonham maridos ou famílias inteiras que, segundo a tradição, têm o dever de "limpar" a honra da família matando a mulher em causa.
O simples facto de uma mulher ter sido violada torna-a, aos olhos desses "familiares" impura e culpada de um crime de infidelidade para com o marido e com a família.
Somente 4% dos culpados são julgados e condenados.
Esta organização, PWA, dirigida por mulheres cheias de coragem e de motivação, algumas vítimas destes horríveis incidentes, esforça-se por:
a) Divulgar e desmascarar todos os crimes que lhe são relatados,
b) Defender por vias legais os direitos das mulheres paquistanesas,
c) Oferecer protecção física e legal e acompanhamento da vítimas até que consigam regressar à sociedade e planear o seu futuro,
d) Gere desde 1999 um albergue em Rawalpindi com capacidade para 30 mulheres.
Leia notícia no Washington Times: Pakistani women victims of 'honor', Acid attacks, kerosene burnings not uncommon as crisis widens, por Katie Falkenberg.
terça-feira, junho 10, 2008
Marty Schmidt regressa do Everest
Hello everyone and greetings from Kathmandu. Today is the 7th of June.
Giannina and I walked out from base camp a few days ago, got stuck in Lukla for a few days of bad weather, pulled together all our equipment and today sorting out this gear for what stays in Nepal and what comes with us to Europe to guide Elbrus in Russia and then Kilimanjaro in Africa before heading home to New Zealand some time in Oct. this year. What I need to talk about now is Tim's amazing ability to conform to the new heights that he experienced while on Everest.
As everyone can read, there were many summits of Everest this year. Just need to point out that Tim and I were climbing in a pure style, just him and I, no sherpas, no support, only back up O2 in place for medical reasons. On the 25th of May we made our attempt without O2 for camp IV, the south col.
Along the way, Tim tried his best to feel the altitude and work with it to get to a height that he never experienced before without any help from O2.
There was only one person who summited Everest this year without O2, unfortunately he passed away on his return to the South Col. Tim and I were doing well without O2, until the yellow band, at around the 7,600 meter mark. I decided to see if Tim's speed work would be helped by a bit of O2.
Even with this boost, Tim's pace was not working for us. The goal was to pick up the pace for the south col or turn around for safety reasons. What we did was for the greater good.
Tim's future goals were confirmed with this Everest attempt. We have made plans for Cho Oyu in 2009, Gash 2 in 2010 and back to Everest in 2011. This is the path that will help him reach 8000 meters and above without O2, this takes courage and commitment, our beliefs in simplicity and our morals in climbing the 8000 meter summits with pure ways, no O2 or sherpas, just him and I and the goal of the 8000 meter summits, is possible because we believe in them.
This is the pure mountaineering experiences that we wish for and that is calling us to act upon. What we saw on the south side of Everest this year was a zoo. I could not believe how many sherpas were hired to haul all the clients gear to the higher camps, how much O2 cylinders were put in place by the sherpas in each camp so that the clients did not have to carry this gear, or set up their tents, or do...the normal mountaineering skills that one would expect a climber who summits Everest should be doing.
Ah well, I come from the climbing era of the 70, 80 and 90ies, where we did everything ourselves. This is the philosophy that I want my clients to know about and to experience. They come with me to be mountaineers and my climbing partner. I'll keep living this life style because it feels good to me to do so, also my clients feel so much better about their expedition doing it this way. When we turned for BC, everything felt right to do so. Tim pushed gear through the Khumbu Ice Fall 6 times, he was satisfied with his experiences and ready to trek out to Lukla, take the flight to KTM and head home to Dallas to family and friends. He will let them all know what an incredible experience he had on Everest. Giannina and I then decided to try for a one day ascent of Everest.
Having everyone clear out of Base camp, leaving just Giannina, Ningma, Sonam and myself, I felt ready to try for the summit in under 24 hours. Mark Batard made a 22 hour ascent many years ago and the record is now around the 12 hour mark by sherpas. But for us white folk to do it under 20 hours would be good enough for me. With just the 4 of us at BC, our food was the best during these 5 days then all the other days combined.
Always make sure that BC food is the best in the world or get another BC organizer right away. Tim, Giannina and I suffered this year with bad food, hence we will organized our own trip to the Himalayas from now on.
So, on the 28th of May, I left BC at 1800 hours. Making it to camp 1 in 2.5 hours, then camp 2 in 45 minutes. Arriving in camp 2 at 2115 hours. I rest and changed clothes for .5 hours, leaving for the Lhutse head wall at 2145. I climbed well to camp 3 in 2 hours arriving at 0015 hours. I pitched my tent, brewed hot drinks, filled my thermos and left for the south col at 0115. I pushed gear to the col back on the 16th and new this area well.
Arriving at the Col at 0345, I took 15 minutes to look for the back up O2 cylinders that Tim and I planned to use for our ascent. We paid extra money for these cylinders to be in placed at the Col. I looked and looked and they were not there.
To me and Tim, this was a crime and we will look more into it in the near future. I promised my wife Giannina that we would have back up O2 in place, but it was not there, heads should roll for this. My next step was to check if i was feeling well enough to keep going for the summit. I left the south col at 0400, arriving at 8,200 meters at 0530, my lungs needed to be looked at.
I contracted a lung infection at some point and i started to heave green and yellow oysters, this was not a good sign to continue. I felt OK, a bit stretched with my air intake, feeling like I needed 3 good breathes for every good one. Yes 8,200 meters is high but I really felt like the infection was robbing me of good breaths. I made the decision to turn, I had the strength to do it right then.
Plus climbing to the summit without the back up O2 would not be good in chase I needed to rescue myself, since no one else was up there on the 29th May.
Happy 55 year anniversary Sir Ed.
All said now, it feels good to be back in KTM, eating well and looking forward to Elbrus and Kilimanjaro. Please write to me at my msigk2@gmail.com and I will be back in touch with all of you.
All the best from Nepal and we'll be in touch soon.
Cheers, Marty and Giannina
PS: O Marty é americano, guia de alta montanha, foi meu companheiro de tenda no Kangchenjunga em 2001 e tornou-se um grande amigo; escalámos o cume junto com o Piotr Pustelnik e o Brian Duthiers (os quatro na foto de topo, Marty de laranja). Recebi hoje esta mensagem do Marty que é um resumo da sua expedição Everest 2008 "guiando" um cliente. O Marty guia cumes de +8000m de um para um, ou de um para dois clientes.
sábado, janeiro 05, 2008
Slides da Expedição ao Manaslu (8163m)
No próximo Jan 15, 3ª feira, às 21h30 vou apresentar os meus slides da expedição ao Manaslu (8163m) na sede da Associação Desportos de Aventura Desnível, Casa da Gruta, Rua de São Mateus, Bairro de São José, 2750 Cascais, tel 214847084, tlm 961304929, ver localização.
quarta-feira, janeiro 02, 2008
O meu Voo de 300 km no XCeará 2007
por Gonçalo Velez
Adoro participar no XCeará e espero conseguir ser um reincidente em cada ano!
Nesta prova voa-se em liberdade, o quanto se quer e para onde se quer, sem regras, sem limitações. Deve-se respeitar um eixo e voar-se em distância o mais longe que consigamos. Esse eixo deve ser preferencialmente a rota do vento que nos impele à sua velocidade.
Este ano os horários de descolagem adiantaram. Tem-se vindo a descobrir que é possível descolar tão cedo quanto as 7h e encontrar ascendente térmica!
Por isso, o pequeno almoço passou para as 6h30 e o primeiro transporte para a descolagem às 7h!
Quase todos os pilotos partiam muito cedo para a descolagem. Procurei isolar-me dessa ânsia pois o que procurava era realizar um bom voo e não julgar que podia estabelecer algum recorde!
Descolar às 8h ou mesmo às 8h30 significava encontrar condições muito fracas, um tecto baixo e enfrentar um risco grande de não se ultrapassarem 20 km.
Subir à rampa demasiado cedo, para descolar horas depois implicava um desgaste muito grande pois a espera ao vento é enervante. Assim, subia cerca das 7h30-8h pois não fazia tenção de descolar antes das 9h.
Não sei por quê, achei as descolagens este ano mais fáceis. Talvez por ter levado uma asa mais rápida (Tycoon, dhv 2-3) do que a que usei nos anos anteriores em Quixadá (Tattoo, dhv 2). Além da maior velocidade em voo, esta asa infla e sobe com maior rapidez.
Carrego-a com 2 kg acima do limite superior.
São vários factores que melhoram a segurança nestas condições agressivas de Quixadá.
Quixadá, 15.11.07
Descolei às 9h10; a rampa está a 487m de altitude. A essa hora o tecto ainda era baixo, 1200m, e a minha intenção era seguir uma táctica de prudência: enrolar toda a ascendente que encontrasse.
Nestes ventos de 30-40 kmh de média, viajamos na deriva das térmicas que também se deslocam perto dessa velocidade.
Pouco depois de descolar fiquei baixo, km 15, e tive o sentimento de angústia do costume, de me sentir impotente para inverter um destino terrível, mas não desisti, claro. Esta era a zona da "marreca" geral.
Como já estava com algum treino naquelas condições, era o meu 6º voo em Quixadá este ano, fiz uma deriva na diagonal meio a contravento e, por sorte, entre dois montes pequenos que, provavelmente faziam acelerar o ar, soltou-se a térmica!
Consegui subir aos 1500m percorrendo vários quilómetros que me levaram para a planície de Madalena, deixando para trás os montes que envolvem Quixadá.
São os primeiros 60 km os mais críticos. A maioria dos pilotos aterra antes de Madalena por que o tecto ainda é baixo, as térmicas não são muito fortes e o relevo é um pouco incompreensível. No plano a oeste de Quixadá, voa-se frequentemente no “azul”.
No entanto, neste dia o céu estava bem populado de cúmulos.
Depois desta térmica fiz uma boa transição mas os cúmulos que tinha visado tinham esgotado a energia. Naquela zona há vários lagos e lembrei-me de o Diogo dizer que os lagos libertam sempre térmica.
Sobrevoei um lago pequeno onde tinha aterrado há dias, pensando que seria muito azar voltar a aterrar ali.
Dirigi-me para sotavento do maior lago, onde já tinha subido noutras ocasiões, e sondei o espaço, nada. Estranho.
Vou perdendo altitude e desaperto a abertura da selette pois quero estar mais concentrado no voo. Deixo-me ir para sotavento sentindo ansiedade mas acreditando que não ficaria naquele local.
De repente, sinto-a! Formava um cúmulo, e interpretei que a térmica viajaria deitada perto do chão por cerca de 1 km e depois levantava.
Uff que alívio!
Os momentos mais memoráveis do voo de distância são estas recuperações inesperadas, sobretudo quando já se olha em redor para ver quais são as possibilidades de aterragem!
Este ano voei mais contido e mais ponderado, e apliquei pela primeira vez com sucesso a técnica de sondar o espaço.
Em voos anteriores o meu hábito quando perdia a térmica, era virar costas ao vento e “deixar-me ir que algo haveria de aparecer”.
Errado. É preferível redescobrir algo que existe (ou já existiu) do que partir para a incerteza. Neste caso, socorria-me dos instrumentos e do “esperto na cabeça” para tentar perceber que podia já estar a voar a sotavento da térmica, ou ao lado.
As térmicas sofriam muito com a deriva do vento e desenvolviam-se muito “deitadas”. Senti que dominava melhor os nervos, que estava um piloto mais maduro, e senti que sofria muito menos com aquela impaciência de “voar sem ver” e o stress que isso provoca.
Voamos num meio transparente, que dá alguns indícios para quem os consiga detectar, mas se estivermos numa fase da nossa progressão em que não sabemos o que fazer, isso é muito enervante! Vamos para o chão sem sabermos porquê, nem o que poderíamos ter feito para o evitar.
Esta térmica levou-me até Madalena, km 60, numa rota a sul por onde nunca tinha passado. Aqui havia uma extensão muito grande de jurema, o mato com espinhos, que me deixou preocupado.
Nesta fase perdi muita altitude pois não conseguia urinar através da minha algália. Já há algum tempo que me esforçava, mas sem resultado. A minha preocupação era: ou mijava ou aterrava, pois o meu limite são as 3h-3h30 de voo.
Decidi que tinha de voar! Tirei a luva, abri a selette, depois as calças, arranquei o tubo, esforcei-me e… “aqui vai disto, ó Evaristo!”
Nem vi o que aconteceu por causa do cockpit à frente, mas penso que mais de metade da urina me molhou as calças e o interior da selette.
Não fez mal, ganhara outro ânimo para voar!
Depois consegui outra térmica que me fez sobrevoar toda a serra de Monsenhor Tabosa e passar à vista dos locais onde já tinha aterrado duas vezes, uma delas dois dias antes. Só que desta vez passava alto e cedo, 15h.
Partilhei esta térmica com um urubu e girávamos observando-nos mutuamente, ambos com o pescoço dobrado para o lado. Respeitámo-nos sempre até ao instante em que decidi dar uma volta no sentido contrário e estraguei a nossa “relação”, levando-o a abandonar a térmica.
Em Tabosa, km 120, subi numa ascendente gerada por uma queimada e a térmica era suave, pouco rentável, mas segura.
Passei a serra de Tabosa pelo norte, por cima da estrada, e consegui nova térmica resultante doutra queimada que me levou aos 2800m.
A estrada no chão era uma longa recta para Nova Russas, e por cima tinha uma bela estrada de cúmulos.
Não sei porquê, este ano evitei entrar na nuvem… Voei bastante de acelerador sob as nuvens pois sugavam bastante, e também por ver ao longe o que pareciam congestus!
Passei o km 127 a pensar que tinha ultrapassado a minha melhor marca realizada este ano a partir de Castelo de Vide.
Foi neste troço, km 140, que sofri dois potentes frontais que me deixaram muito desconfortável, sobretudo por terem sido quase consecutivos. Estava na base do cúmulo e sentia-se uma turbulência muito agressiva e uma ascendente tipo sugadouro, algo preocupante.
Cometi o erro de abandonar a térmica para sotavento e de entrar em fortes descendentes.
A seguir a Nova Russas, km 160, tornei a ver-me a 300m do chão e a avaliar terrenos de aterragens. Mas nova térmica me salvou e levou-me para 2600m.
Adiante acontece algo de curioso: o chão sobe, dando origem a um planalto, e ficamos com um tecto mais estreito! Essa é a impressão que dá, mas o tecto também vai subindo.
Olho em redor e dou-me conta de que não vi uma única asa durante todo o voo! Que se passa? Que é feito “deles”? Como se fala sempre demasiado no rádio, voo com ele desligado por isso não tinha qualquer noção sobre quem poderia estar a voar perto aquela hora.
A organização pedia que informássemos a nossa posição sempre que aproximávamos uma baliza: número de piloto, altitude e distância da baliza. Enviava essa informação e desligava o rádio.
Esta informação é importante por razões de segurança óbvias, mas também para permitir à organização posicionar veículos de transporte.
Passo Poranga, km 215, bastante alto, consigo atingir 2900m e percorro 26 km em planeio a direito. Em baixo a estrada é uma longa recta de terra com mato para cada lado. Uma zona muito preocupante se tivesse que aterrar, embora a estrada fosse sempre a salvação.
Às 16h30, km 255, consigo subir no que julguei ser a última térmica, que me levou aos 2900m outra vez.
Faço um planeio de uns 20 km numa restituição deliciosa em que a taxa de queda é muito reduzida, e as cores do final de tarde são soberbas.
Concentrei-me a aproveitar ao máximo as modestas linhas de ascendente que fui sentindo. Às vezes desconcentrava-me a apreciar a paisagem e auto-criticava-me!
Cheguei a Pedro II eram 17h e reparo que estou no km 283.
Pergunto-me: e por que não os 300 km, hein?!
Passo a sul da cidade sobre uma colina e vejo adiante um urubu que enrolava térmica. Nem queria acreditar que ainda podia haver uma ascendente aquela hora!
Era fraca mas fez-me subir 700m. O urubu e eu girávamos sincronizados, eu desconfiado, tentava olhar para trás das costas para ver se ele não me traía. Depois subi mais do que ele e desistiu, foi procurar outra companhia.
Sabia que estava próximo o momento de aterrar e fazia contas ao terreno, e sobretudo tentava adivinhar qual era a estrada principal, ou seja, o eixo lógico dos transportes de recolha para não ficar muito distante de um local conveniente.
Do ar tudo parece perto e fácil, mas quando estamos aterrados arrependemo-nos de algumas opções de aterragem que fizemos, sobretudo quando o rádio não alcança alguém!
Contudo, neste momento só olhava para o conta quilómetros: queria passar os 300 km!
Voei por cima de uma estrada e esperei, tentando sempre sentir as melhores linhas de planeio.
Aproximava uma aldeia e vi 288 km.
Lá em baixo jogavam futebol num campo grande. Em redor o terreno era coberto de arvoredo e raras clareiras.
Detectei um campo largo, bom para aterrar, e outro campo mais longe, menos bom, estreito e ladeado de árvores.
Vi 299 km e deixei-me ir… esperei.
Mal vi os 300 km dei meia volta e dirigi-me para esse campo largo.
Uff, consegui.
Eram 17h30. Não tinha comido todo o dia e antes de dobrar a asa comi duas deliciosas maçãs e três mini-bananas que transportava comigo.
O rádio não tinha alcance e o meu telefone não tinha rede! Pedi a um dos nativos para enviar um sms ao Chico com as minhas coordenadas.
Fez-se escuro rapidamente e saí do campo na companhia de aldeãos com uma lanterna acesa na testa.
Deram-me boleia de moto até uma mercearia no centro da aldeia onde comprei cerveja, pão e uma lata de sardinhas, pouco mais havia para comer.
Soube que estava em Mororó, município de Lagoa de São Francisco, estado do Piauí.
Fecharam a mercearia às 20h e deitei-me a dormir no chão com uma bota a servir-me de almofada, o rádio ligado à cabeceira.
O carro da recolha apanhou-me eram 1h30 e cheguei ao hotel em Quixadá às 9h, atrasado para o pequeno almoço e para outro dia de voo!
Aqui está o track do voo que descrevo acima.
Conclusão
Este XCeará resultou numa enorme surpresa para mim pois acabei por voar o triplo do que voei em 2006!
Em 8 dias disponíveis, voei 7, num total de 18.9h.
Excluíndo o voo local de treino no primeiro sábado, voei 17.8h e 587 km de distância.
Isto equivale às médias por voo de 2h58 e de 98 km de distância.
Foi uma excelente semana!
Obrigado aos meus companheiros de viagem e de voo, Paulo Reis, Carlos Brasuka, Gil Navalho e João Brito pela amizade, e aos demais participantes, motoristas das recolhas, meninos de Juatama (os ajudas na descolagem) e pessoal da organização por participarem e organizarem esta prova tão especial.
O meu companheiro Paulo Reis fotografou e filmou:
Slideshow
Filmes:
Viagem para Quixadá e Voozinho
Briefing e Manga de Teste
Dias 1, 2 e 3
Dias 4 e 5
Dia 6 e Entrega de Prémios
Parabéns aos recordistas do Mundo, Marcelo Prieto “Cecéu”, Rafael Saladini “Sardinha” e Frank Brown pelos 461.8 km voados em 14.11.07, a véspera do dia do voo que relato acima.
Adoro participar no XCeará e espero conseguir ser um reincidente em cada ano!
Nesta prova voa-se em liberdade, o quanto se quer e para onde se quer, sem regras, sem limitações. Deve-se respeitar um eixo e voar-se em distância o mais longe que consigamos. Esse eixo deve ser preferencialmente a rota do vento que nos impele à sua velocidade.
Este ano os horários de descolagem adiantaram. Tem-se vindo a descobrir que é possível descolar tão cedo quanto as 7h e encontrar ascendente térmica!
Por isso, o pequeno almoço passou para as 6h30 e o primeiro transporte para a descolagem às 7h!
Quase todos os pilotos partiam muito cedo para a descolagem. Procurei isolar-me dessa ânsia pois o que procurava era realizar um bom voo e não julgar que podia estabelecer algum recorde!
Descolar às 8h ou mesmo às 8h30 significava encontrar condições muito fracas, um tecto baixo e enfrentar um risco grande de não se ultrapassarem 20 km.
Subir à rampa demasiado cedo, para descolar horas depois implicava um desgaste muito grande pois a espera ao vento é enervante. Assim, subia cerca das 7h30-8h pois não fazia tenção de descolar antes das 9h.
Não sei por quê, achei as descolagens este ano mais fáceis. Talvez por ter levado uma asa mais rápida (Tycoon, dhv 2-3) do que a que usei nos anos anteriores em Quixadá (Tattoo, dhv 2). Além da maior velocidade em voo, esta asa infla e sobe com maior rapidez.
Carrego-a com 2 kg acima do limite superior.
São vários factores que melhoram a segurança nestas condições agressivas de Quixadá.
Quixadá, 15.11.07
Descolei às 9h10; a rampa está a 487m de altitude. A essa hora o tecto ainda era baixo, 1200m, e a minha intenção era seguir uma táctica de prudência: enrolar toda a ascendente que encontrasse.
Nestes ventos de 30-40 kmh de média, viajamos na deriva das térmicas que também se deslocam perto dessa velocidade.
Pouco depois de descolar fiquei baixo, km 15, e tive o sentimento de angústia do costume, de me sentir impotente para inverter um destino terrível, mas não desisti, claro. Esta era a zona da "marreca" geral.
Como já estava com algum treino naquelas condições, era o meu 6º voo em Quixadá este ano, fiz uma deriva na diagonal meio a contravento e, por sorte, entre dois montes pequenos que, provavelmente faziam acelerar o ar, soltou-se a térmica!
Consegui subir aos 1500m percorrendo vários quilómetros que me levaram para a planície de Madalena, deixando para trás os montes que envolvem Quixadá.
São os primeiros 60 km os mais críticos. A maioria dos pilotos aterra antes de Madalena por que o tecto ainda é baixo, as térmicas não são muito fortes e o relevo é um pouco incompreensível. No plano a oeste de Quixadá, voa-se frequentemente no “azul”.
No entanto, neste dia o céu estava bem populado de cúmulos.
Depois desta térmica fiz uma boa transição mas os cúmulos que tinha visado tinham esgotado a energia. Naquela zona há vários lagos e lembrei-me de o Diogo dizer que os lagos libertam sempre térmica.
Sobrevoei um lago pequeno onde tinha aterrado há dias, pensando que seria muito azar voltar a aterrar ali.
Dirigi-me para sotavento do maior lago, onde já tinha subido noutras ocasiões, e sondei o espaço, nada. Estranho.
Vou perdendo altitude e desaperto a abertura da selette pois quero estar mais concentrado no voo. Deixo-me ir para sotavento sentindo ansiedade mas acreditando que não ficaria naquele local.
De repente, sinto-a! Formava um cúmulo, e interpretei que a térmica viajaria deitada perto do chão por cerca de 1 km e depois levantava.
Uff que alívio!
Os momentos mais memoráveis do voo de distância são estas recuperações inesperadas, sobretudo quando já se olha em redor para ver quais são as possibilidades de aterragem!
Este ano voei mais contido e mais ponderado, e apliquei pela primeira vez com sucesso a técnica de sondar o espaço.
Em voos anteriores o meu hábito quando perdia a térmica, era virar costas ao vento e “deixar-me ir que algo haveria de aparecer”.
Errado. É preferível redescobrir algo que existe (ou já existiu) do que partir para a incerteza. Neste caso, socorria-me dos instrumentos e do “esperto na cabeça” para tentar perceber que podia já estar a voar a sotavento da térmica, ou ao lado.
As térmicas sofriam muito com a deriva do vento e desenvolviam-se muito “deitadas”. Senti que dominava melhor os nervos, que estava um piloto mais maduro, e senti que sofria muito menos com aquela impaciência de “voar sem ver” e o stress que isso provoca.
Voamos num meio transparente, que dá alguns indícios para quem os consiga detectar, mas se estivermos numa fase da nossa progressão em que não sabemos o que fazer, isso é muito enervante! Vamos para o chão sem sabermos porquê, nem o que poderíamos ter feito para o evitar.
Esta térmica levou-me até Madalena, km 60, numa rota a sul por onde nunca tinha passado. Aqui havia uma extensão muito grande de jurema, o mato com espinhos, que me deixou preocupado.
Nesta fase perdi muita altitude pois não conseguia urinar através da minha algália. Já há algum tempo que me esforçava, mas sem resultado. A minha preocupação era: ou mijava ou aterrava, pois o meu limite são as 3h-3h30 de voo.
Decidi que tinha de voar! Tirei a luva, abri a selette, depois as calças, arranquei o tubo, esforcei-me e… “aqui vai disto, ó Evaristo!”
Nem vi o que aconteceu por causa do cockpit à frente, mas penso que mais de metade da urina me molhou as calças e o interior da selette.
Não fez mal, ganhara outro ânimo para voar!
Depois consegui outra térmica que me fez sobrevoar toda a serra de Monsenhor Tabosa e passar à vista dos locais onde já tinha aterrado duas vezes, uma delas dois dias antes. Só que desta vez passava alto e cedo, 15h.
Partilhei esta térmica com um urubu e girávamos observando-nos mutuamente, ambos com o pescoço dobrado para o lado. Respeitámo-nos sempre até ao instante em que decidi dar uma volta no sentido contrário e estraguei a nossa “relação”, levando-o a abandonar a térmica.
Em Tabosa, km 120, subi numa ascendente gerada por uma queimada e a térmica era suave, pouco rentável, mas segura.
Passei a serra de Tabosa pelo norte, por cima da estrada, e consegui nova térmica resultante doutra queimada que me levou aos 2800m.
A estrada no chão era uma longa recta para Nova Russas, e por cima tinha uma bela estrada de cúmulos.
Não sei porquê, este ano evitei entrar na nuvem… Voei bastante de acelerador sob as nuvens pois sugavam bastante, e também por ver ao longe o que pareciam congestus!
Passei o km 127 a pensar que tinha ultrapassado a minha melhor marca realizada este ano a partir de Castelo de Vide.
Foi neste troço, km 140, que sofri dois potentes frontais que me deixaram muito desconfortável, sobretudo por terem sido quase consecutivos. Estava na base do cúmulo e sentia-se uma turbulência muito agressiva e uma ascendente tipo sugadouro, algo preocupante.
Cometi o erro de abandonar a térmica para sotavento e de entrar em fortes descendentes.
A seguir a Nova Russas, km 160, tornei a ver-me a 300m do chão e a avaliar terrenos de aterragens. Mas nova térmica me salvou e levou-me para 2600m.
Adiante acontece algo de curioso: o chão sobe, dando origem a um planalto, e ficamos com um tecto mais estreito! Essa é a impressão que dá, mas o tecto também vai subindo.
Olho em redor e dou-me conta de que não vi uma única asa durante todo o voo! Que se passa? Que é feito “deles”? Como se fala sempre demasiado no rádio, voo com ele desligado por isso não tinha qualquer noção sobre quem poderia estar a voar perto aquela hora.
A organização pedia que informássemos a nossa posição sempre que aproximávamos uma baliza: número de piloto, altitude e distância da baliza. Enviava essa informação e desligava o rádio.
Esta informação é importante por razões de segurança óbvias, mas também para permitir à organização posicionar veículos de transporte.
Passo Poranga, km 215, bastante alto, consigo atingir 2900m e percorro 26 km em planeio a direito. Em baixo a estrada é uma longa recta de terra com mato para cada lado. Uma zona muito preocupante se tivesse que aterrar, embora a estrada fosse sempre a salvação.
Às 16h30, km 255, consigo subir no que julguei ser a última térmica, que me levou aos 2900m outra vez.
Faço um planeio de uns 20 km numa restituição deliciosa em que a taxa de queda é muito reduzida, e as cores do final de tarde são soberbas.
Concentrei-me a aproveitar ao máximo as modestas linhas de ascendente que fui sentindo. Às vezes desconcentrava-me a apreciar a paisagem e auto-criticava-me!
Cheguei a Pedro II eram 17h e reparo que estou no km 283.
Pergunto-me: e por que não os 300 km, hein?!
Passo a sul da cidade sobre uma colina e vejo adiante um urubu que enrolava térmica. Nem queria acreditar que ainda podia haver uma ascendente aquela hora!
Era fraca mas fez-me subir 700m. O urubu e eu girávamos sincronizados, eu desconfiado, tentava olhar para trás das costas para ver se ele não me traía. Depois subi mais do que ele e desistiu, foi procurar outra companhia.
Sabia que estava próximo o momento de aterrar e fazia contas ao terreno, e sobretudo tentava adivinhar qual era a estrada principal, ou seja, o eixo lógico dos transportes de recolha para não ficar muito distante de um local conveniente.
Do ar tudo parece perto e fácil, mas quando estamos aterrados arrependemo-nos de algumas opções de aterragem que fizemos, sobretudo quando o rádio não alcança alguém!
Contudo, neste momento só olhava para o conta quilómetros: queria passar os 300 km!
Voei por cima de uma estrada e esperei, tentando sempre sentir as melhores linhas de planeio.
Aproximava uma aldeia e vi 288 km.
Lá em baixo jogavam futebol num campo grande. Em redor o terreno era coberto de arvoredo e raras clareiras.
Detectei um campo largo, bom para aterrar, e outro campo mais longe, menos bom, estreito e ladeado de árvores.
Vi 299 km e deixei-me ir… esperei.
Mal vi os 300 km dei meia volta e dirigi-me para esse campo largo.
Uff, consegui.
Eram 17h30. Não tinha comido todo o dia e antes de dobrar a asa comi duas deliciosas maçãs e três mini-bananas que transportava comigo.
O rádio não tinha alcance e o meu telefone não tinha rede! Pedi a um dos nativos para enviar um sms ao Chico com as minhas coordenadas.
Fez-se escuro rapidamente e saí do campo na companhia de aldeãos com uma lanterna acesa na testa.
Deram-me boleia de moto até uma mercearia no centro da aldeia onde comprei cerveja, pão e uma lata de sardinhas, pouco mais havia para comer.
Soube que estava em Mororó, município de Lagoa de São Francisco, estado do Piauí.
Fecharam a mercearia às 20h e deitei-me a dormir no chão com uma bota a servir-me de almofada, o rádio ligado à cabeceira.
O carro da recolha apanhou-me eram 1h30 e cheguei ao hotel em Quixadá às 9h, atrasado para o pequeno almoço e para outro dia de voo!
Aqui está o track do voo que descrevo acima.
Conclusão
Este XCeará resultou numa enorme surpresa para mim pois acabei por voar o triplo do que voei em 2006!
Em 8 dias disponíveis, voei 7, num total de 18.9h.
Excluíndo o voo local de treino no primeiro sábado, voei 17.8h e 587 km de distância.
Isto equivale às médias por voo de 2h58 e de 98 km de distância.
Foi uma excelente semana!
Obrigado aos meus companheiros de viagem e de voo, Paulo Reis, Carlos Brasuka, Gil Navalho e João Brito pela amizade, e aos demais participantes, motoristas das recolhas, meninos de Juatama (os ajudas na descolagem) e pessoal da organização por participarem e organizarem esta prova tão especial.
O meu companheiro Paulo Reis fotografou e filmou:
Slideshow
Filmes:
Viagem para Quixadá e Voozinho
Briefing e Manga de Teste
Dias 1, 2 e 3
Dias 4 e 5
Dia 6 e Entrega de Prémios
Parabéns aos recordistas do Mundo, Marcelo Prieto “Cecéu”, Rafael Saladini “Sardinha” e Frank Brown pelos 461.8 km voados em 14.11.07, a véspera do dia do voo que relato acima.
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quarta-feira, dezembro 12, 2007
Lavar os Dentes em Sama
(clique nas imagens para ampliar)
No início da minha expedição ao Manaslu nos Himalaias do Nepal em final de Agosto 2007, voámos num helicóptero de carga russo de Pokhara para a aldeia de Sama (3600m), a um dia de marcha do acampamento base.
Depois de descarregada a carga e a bagagem que foi transportada por carregadores para uma estalagem na aldeia, atravessei o ribeiro defronte do local de aterragem e segui um carreiro.
Cheguei a um chafariz onde se juntavam um grupo de crianças a lavar os dentes!
Tinham sido enviadas pelos professores e estavam muito divertidas cumprindo com essa tarefa.
Adoraram ser fotografados, e depois conduziram-me à escola.
Eram uns quinze, um grupo muito animado, que me levaram à sala onde guardavam as escovas no rés do chão. Os professores, um homem e uma mulher não pareciam achar muita graça à expansividade dos garotos, e mantinham-se contidos, provavelmente devido à presença do estrangeiro.
Cada aluno tinha um prego espetado na parede com o seu nome onde pendurava a escova de dentes.
Percebi que eles residiam na escola pois as famílias morariam a horas de distância a pé.
Foi muito divertido!
No início da minha expedição ao Manaslu nos Himalaias do Nepal em final de Agosto 2007, voámos num helicóptero de carga russo de Pokhara para a aldeia de Sama (3600m), a um dia de marcha do acampamento base.
Depois de descarregada a carga e a bagagem que foi transportada por carregadores para uma estalagem na aldeia, atravessei o ribeiro defronte do local de aterragem e segui um carreiro.
Cheguei a um chafariz onde se juntavam um grupo de crianças a lavar os dentes!
Tinham sido enviadas pelos professores e estavam muito divertidas cumprindo com essa tarefa.
Adoraram ser fotografados, e depois conduziram-me à escola.
Eram uns quinze, um grupo muito animado, que me levaram à sala onde guardavam as escovas no rés do chão. Os professores, um homem e uma mulher não pareciam achar muita graça à expansividade dos garotos, e mantinham-se contidos, provavelmente devido à presença do estrangeiro.
Cada aluno tinha um prego espetado na parede com o seu nome onde pendurava a escova de dentes.
Percebi que eles residiam na escola pois as famílias morariam a horas de distância a pé.
Foi muito divertido!
segunda-feira, dezembro 10, 2007
quarta-feira, outubro 31, 2007
Carta ao Ministro da Saúde
Venho alertar-vos para a indisciplina tremenda que se faz sentir no sistema de saúde português, tanto público como privado e que se traduz sobretudo na grave falta de pontualidade dos prestadores de serviço!
Os médicos demonstram uma enorme falta de respeito pelos utentes por raramente cumprirem os horários.
Os serviços estão organizados para desperdiçarem uma quantidade enorme de tempo aos utentes. É habitual perder-se uma tarde inteira ou uma manhã para se ter uma consulta. O sistema já encara este desperdício como normalidade.
Em Portugal, a população não tem outra solução senão conformar-se com este estado inaceitável de deficiente organização dos serviços de saúde. Subscrevo um seguro de saúde privado e, no hospital que utilizo (CUF), a falta de disciplina é idêntica, a mentalidade de médicos e de funcionários é quase igual ao do sistema público.
Este hospital nem sequer tem um processo de auscultação da opinião dos utentes. Já quis reclamar e não soube a quem dirigir a minha mensagem. Já o fiz pelo menos uma vez e nunca obtive uma resposta.
O País está a desperdiçar milhões de horas de trabalho com a indisciplina atroz que reina no mundo da saúde em Portugal!
A nossa produtividade poderia ser largamente beneficiada, e o desenvolvimento nacional muito acrescido, caso V Exa conseguisse inverter o estado de coisas que exponho acima.
terça-feira, outubro 30, 2007
Lembrando o Bruno e o RD
Na primavera de 2002 participei numa expedição ao Makalu (8470m).
Nas primeiras duas ascensões escalei com o RD Caughron, americano de Berkeley (Califórnia) com 58 anos de idade, um bem sucedido gestor de sistemas informáticos. Pessoa sociável e divertida, que lia a The New Yorker, e com quem conseguia ter conversas para lá da esfera do montanhismo.
Na nossa segunda ascensão o RD falava-me muito no Makalu La, o colo a 6900m que teríamos de dobrar para montar o C2 (7400m).
No dia em que acordámos no C1 (6500m) para seguirmos para o C2, ele acordou mais cedo do que é normal e falava-me entusiasticamente em irmos dormir ao C2. Como ainda não havia um trilho, nem cordas, nem um reconhecimento desse itinerário, respondi-lhe friamente de que talvez não fosse boa ideia irmos carregados sem sabermos se lá chegaríamos.
Após muita insistência dele, lá carregámos uma tenda, sacos-cama, gás, panelas, fogão, alimentos, etc preparados para acampar no C2.
Nesse dia alguns alpinistas com os seus sherpas subiam ao Makalu La e montavam-se cordas. Nós subíamos lentos.
Por volta das 16h os sherpas e os demais alpinistas ocidentais começaram a descer. Tinham fixo as cargas a amarrações e desciam alegando que as cordas fixas não chegavam ao cimo do corredor.
Continuámos lentos e sentindo algum cansaço, mas com capacidade para continuarmos por mais horas, até que atingimos o extremo da última corda.
O RD mantinha uma enorme teimosia em continuar!
Eu informei-o de que não seguia e que a minha decisão era a de descer para o C1.
Expliquei-lhe que estávamos carregados e cansados, que a neve no corredor a 45º tinha pouca consistência e sem cordas fixas constituía um risco acrescido, que o dia já ia longo e nós escalávamos lentos e arriscávamo-nos a não atingir o topo do colo antes do caír da noite, que ainda para mais não tínhamos a noção da distância que nos separava do C2 nem das dificuldades que poderíamos enfrentar.
O RD concordou com tudo o que lhe expus, mas… decidiu que continuava!
Tentei convencê-lo a descer comigo: “é melhor jogar pelo seguro, amarramos aqui as cargas, descemos agora, e amanhã regressamos para tentarmos subir ao Makalu La”.
Eu estava perante um alpinista experiente que realizava pelo menos a sua quarta expedição a um cume de +8000m. Tinha-lhe explicado as razões do meu abandono e ele percebeu-as. Sabia certamente quais as consequências dos riscos que lhe falei, e nada mais pude acrescentar.
Senti-me vagamente culpabilizado por abandoná-lo, mas sabia que a minha decisão era claramente baseada na prudência, e a dele baseada na obstinação cega e no desvario.
Nada mais pude fazer…
Cheguei ao C1 era noite cerrada.
No dia seguinte às 8h, o italiano Fabriano vem ter comigo à tenda dizendo-me que o RD estava “morto”.
Os dois suíços, os únicos que tinham dormido no C2, tinham descido e passado por ele. Estava sentado numa rocha, uns 20m do local onde nos tínhamos separado. Tinha o casaco aberto e as mãos nuas, o saco cama tinha desaparecido, e aparentava estar em coma. Os suíços acharam que não tinham meios de ajudá-lo.
Nessa manhã o vento intensificou-se muito. Mesmo assim, o eslovaco Martin ainda tentou subir com medicamentos, mas acabou por desistir por cansaço e pelo estado do tempo que se agravava.
A conclusão que desejo apresentar deste episódio é a de que escalar cumes com mais de 8000m é uma actividade altamente exigente reservada a alpinistas muito experientes, que possuem total autonomia no campo técnico, físico e psicológico.
Esta é a disciplina mais elevada do alpinismo em todos os aspectos!
Se decidem participar neste tipo de actividade arriscam a vida, e fazem-no sobretudo com consciência dos riscos objectivos e subjectivos envolvidos.
Em suma, sabem que podem morrer por via das suas próprias decisões e actos. Cada alpinista é um ente autónomo, que faz parte de uma equipa, é certo, mas que tem iniciativa e vontade próprios.
Como em qualquer actividade onde se quebram barreiras e se ultrapassam as marcas estabelecidas, nos Himalaias não há regras definidas e cada qual conhecendo os seus limites (ou julgando conhecê-los) procura exceder-se através do esforço e da inovação.
É muito difícil contestar à priori a iniciativa de um alpinista. Há feitos excepcionais que resultaram de ideias aparentemente “loucas” e que a maioria à priori condenou.
A única coisa que o João Garcia poderia ter feito junto do Bruno Carvalho no Shishapangma quando se cruzaram perto do cume, num episódio idêntico ao que exponho acima e ocorrido há um ano, seria aconselhá-lo a ter cuidado e a perder o menos tempo possível.
O atraso do Bruno nada de errado poderia denunciar.
E se algo de errado se passava com ele, teria de ser o próprio a saber decidir renunciar.
Se ele atentava um 8000m tinha de estar à altura das exigências da tarefa, em todos os seus aspectos mais críticos.
A equipa que ele integrava não era uma equipa enquadrada por um guia como acontece nas expedições comerciais. Mas, mesmo nestas, o guia acompanha para coordenar a equipa e decidir a táctica. Não acompanha para “tomar conta” dos clientes.
Já me atrasei em diversas situações, como para tentar recuperar a circulação num polegar ou estar 30 minutos a tentar abrir uma abertura de velcro na traseira das calças para poder obrar a 8400m!
O Bruno tinha de ter a capacidade de decidir se estava capaz de prosseguir, e até onde.
Decidiu prosseguir, e provavelmente decidiu bem, por que se sentiria em boas condições.
Errou na descida do cume e infelizmente pagou com a vida.
Ninguém o poderia ter evitado, só ele.
Gonçalo Velez
PS: Dias depois de escrever o texto acima, encontrei-me com o João que acrescentou dois dados:
a) Acordou com o Bruno, quando se separaram, que este teria como limite de horário as 14h para dar meia volta e descer;
b) Entregou-lhe o telefone de satélite para ele poder comunicar com o acampamento base, e daqui poderiam comunicar por rádio para o João no C3, caso o Bruno precisasse de ajuda.
Nota: É inacreditável existir gente que opina sobre assuntos delicados e sérios, sem nada conhecer do assunto, tanto da matéria, como do contexto em que a acção ocorreu. Revelam ignorância e má fé!
O editorial do último panfleto da Federação de Campismo de Portugal (nº 15, Jul-Ago-Set 2007) é disso um exemplo flagrante e de muita gravidade.
Demonstra uma grande irresponsabilidade no que pretende questionar, não apresentando quaisquer fundamentos objectivos para tal.
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